terça-feira, 9 de março de 2010

The Best Of



Como o servidor do meu antigo blog, resolveu deletar sem aviso prévio tudo que havia sido anteriormente publicado, achei que já podia me dar ao luxo de publicar um "The Best Of Coluna do Edrisse - 2003/2006". Reli tudo que eu tinha guardado, do que havia publicado, e escolhi três textos.

O primeiro, que pode não ser uma das melhores coisas que escrevi na vida, tem um significado todo especial pra mim. Fala do meu pai e da eterna saudade que sentirei dele.

Esse negócio de escrever é muito doido. O Blog de hoje, seria sobre o novo CD do Roberto Carlos. Mas não saiu. Fica pra próxima. Tinha um outro assunto querendo muito ser falado. E eu decidi deixar. Já que isso é uma grande brincadeira, porque seguir ordens e formatos? A coisa está na minha cabeça há algum tempo, querendo ser dita. E como eu estou amando muito tudo isso, vai ser hoje....

Eu acredito que a morte pode ser um prêmio. Somente os muito bons e muito puros morrem sem dor. Fazem a passagem de forma serena e tranqüila. Lógico que pra quem fica, é muito mais duro, porque na maioria das vezes, isso se dá de forma inesperada. Mas o prêmio é pra quem vai.

Meu pai foi premiado. E com muita justiça. Foi a pessoa mais pura que já conheci na vida. Uma criança crescida. Cheio de defeitos, mas dono da virtude mais exemplar de um ser humano: a pureza d’alma. O cara não existia. Alegre, intempestivo, barulhento, folgado, teimoso, engraçado. Nunca passou desapercebido.

Comecei a entender o meu pai muito cedo. Aliás, muito mais cedo que o normal, a gente inverteu os papéis, e eu passei a orientar mais que ser orientado. Se é verdade que eu sou um espírito velho, como já me disseram, isso fica muito explícito na nossa relação. Pra alguns, eu era o “queridinho” dele. Mas na verdade, eu o entendia e aceitava com todas as suas limitações. Extraía dele o que ele tinha de melhor pra oferecer. E não que eu apenas me contentasse com isso, porque contentar parece com “se consolar”. E longe de ser um consolo, meu pai era um orgulho pra mim. Eu me locupletava com ele.

Não conversávamos muito. Mas o silêncio da nossa companhia preenchia a nossa relação. Os nossos mundos eram completamente diferentes. Sempre foram. Mas a gente não exigia visto de entrada. O respeito e a admiração eram mais fortes. Não vou negar que eu não tenha sentido falta de um monte de coisas que ele não podia me dar. Não deu. É a minha história e pronto. Mas tenho muito forte na minha lembrança, um sentimento que me acompanha desde muito novo: o orgulho de sua integridade e da sua honestidade. Isso me fazia olhar pra ele, com aquele olhar de criança cobiçando o doce na vitrine da padaria.

Como tudo na vida, a gente só dá o devido valor depois que perde. Hoje eu consigo ter essa visão “terapeutizada” da nossa relação. Hoje eu entendo o porquê a nossa relação tinha essa magia. Acho que a gente resgatou o que tinha que resgatar. Ao final de tudo, me dou por muito satisfeito com nossa passagem nessa vida. E fica só uma imensa saudade...

Saudade que nunca acaba. Lembrança de cada momento. Do pai herói. Do pai distante. Do pai ausente. Do pai que mima. E uma mais doída ainda, que é saudade do pai que ele não teve tempo de ser: pai amigo e avô. Quando eu falo de pai amigo falo de um estágio, no meu entendimento, que a gente só atinge quando também é pai. Junto com a paternidade, vem uma maturidade que nos permite entender todos os erros e acertos cometidos por nossos pais. O que parecia omissão, vira tolerância. O que parecia maldade, vira educação. O que parecia ausência, vira necessidade de batalhar pra nos dar uma vida melhor. E o que parecia amor, vira um sentimento que eu nem consigo dar nome de tão forte e intenso que é. E aí, a gente percebe que tudo que somos como homem, devemos à ele.

Mas pra uma coisa não há remédio: Fábio Jr e o tal do “brincar de vovô com meu filho, no tapete da sala de estar”. Por mais que eu acredite que lá da estrela em que ele vive, brinca muito e olha por todos nós, a falta é irrecuperável. Não há um só momento em que eu não queira muito a presença do Vovô Cezar. Seja pra aplacar a saudade inesgotável do João, que até hoje chora ao falar do avô; seja pro Bernardo reconhecê-lo e satisfazer o desejo que ele tem de ir na estrela buscá-lo; seja pra apresentá-lo pro Cezar e pro Pedro (que vive perguntando se não tem um vovô Pedro). Mas principalmente, pra ele juntar todos eles, e na sua distância regulamentar, se orgulhar muito da família que eu formei.

Falando diretamente para o próprio: Pai, que falta você faz! E como após quatro anos, quão presente você é! Em cada festa de família, em cada travessura dos meninos, em cada novela que estréia, em cada eleição, em cada domingo que o telefone não toca às 7:00hs da manhã. Continue olhando por todos nós. E repetindo o que eu falei no dia da sua passagem, e que eu tenho certeza que você ouviu: me ajude apenas a ser um pai como você foi. Que um dia, eu possa ouvir dos meus filhos, pelo menos o que eu te disse aqui.

O tapete da sala de estar está lá. Os CD’s do Frank Sinatra também. And you must remember this, you did it, my way!!!!

Desculpem, mas hoje a coluna era dele. Acho que ele ia se orgulhar muito disso também!

O próximo texto, foi escrito por volta de fevereiro de 2004...eu tinha recém-completado 35 anos!!! Não sei se hoje mudaria muita coisa, mas acho que aos 40 e poucos, continuo assinando embaixo do que tá escrito...

Ontem eu recebi um texto, supostamente do Mario Prata, sobre “mulheres de 30”. Tudo absolutamente verdade. Definitivamente, a mulher de trinta – e aí, estabelecendo uma margem de manobra, estamos falando de algumas com 28 e outras tantas com até 40 e poucos – está na sua melhor fase. É o apogeu da vida. Não que outras idades não sejam igualmente interessantes. Todas têm o seu valor. Mas acho que é nesta fase que a vida é vivida com mais intensidade e vigor. Diante disso, e esse assunto está me abordando há algum tempo, fiquei pensando em nós, homens de 30. Já falei aqui no blog sobre a “crise” que me acometeu ao fazer 35. E hoje, três meses depois, concluo que vivo a melhor fase da minha vida.

Aos 30 e tantos, o homem já definiu quase tudo na vida, e começa a colher os frutos. Me desculpe Zeca Pagodinho, mas sem essa de “deixa a vida me levar”. O homem de 30 e tantos, segura firme nas rédeas e toca a vida pra onde quer levá-la. É o senhor do seu destino, e mesmo quando atropelado pelas reveses da vida, sabe levantar de queixo erguido e seguir a caminhada.

Não vivemos sozinhos. Nunca. Aos trinta e vários, o homem já conheceu o grande amor da sua vida. Se foi inteligente e capaz, a mantém do seu lado. Se a perdeu, vai saber encontrá-la em outra. Sim, porquê os homens de 30 e alguns, não perdem tempo se lamentando. Correm atrás e fazem a sua felicidade.

Cuidamos do corpo com sapiência. Sem essa de querer definir avidamente o que até agora estava sem definição. O objetivo é levar uma vida saudável, e se precaver contra as armadilhas a que a máquina fica exposta. Se partindo disso, alguns músculos teimarem em aflorar e tomar forma, tanto melhor. A barriguinha está incorporada à personalidade de cada um. Não temos nenhum pudor em expô-la com todas as saliências e dobraduras porventura existentes.

Profissionalmente, já nos estabelecemos. Nesta altura da vida, já sabemos o que nos espera na outra metade do tempo que, estatisticamente, nos resta. Burocratas, artistas, executivos ou alternativos (sim, porque o homem de 30 e cacetada, mesmo que não faça nada, faz disso uma bandeira de opção de vida, e tem sempre uma mulher que romanticamente admira aquele que não se vendeu ao sistema). É hora de aprumar a vela, e sentir o vento batendo no rosto. A depender do barco, podem vir dificuldades, travestidas de emoção, ou serviço de bordo de primeira.

Sabemos exatamente o que podemos ter e fazer. Já não buscamos ansiosamente os ícones da nossa geração. O que já obtivemos, desfrutamos. O que ainda falta, conseguimos planejar e antever quando virá. Não almejamos nada que seja impossível. Se for difícil, é preciso querer muito pra valer o esforço.

Já experimentamos todas as drogas que quisemos. Continuamos fazendo uso das que nos dão prazer. Sem culpa, mas sem necessidade de afronta. Simplesmente nos permitimos “curtir a onda”. Respeitamos os nossos limites, e os que chegaram até aqui impávidos, é porque os conhecem bem.

Entre quatro paredes, ou sem nenhuma delas em volta, exercemos o direito da igualdade. Sim, porque durante boa parte da vida, fomos escolhidos. Vivíamos imberbes em busca dos prazeres da carne, sujeitos à avaliações, célebres dispensadas, rotulados e classificados entre tantos. Não sei se pela pouca oferta, ou porque nessa idade as mulheres estão bem mais inteligentes e preparadas para lidar com isso, hoje escolhemos, ou na pior das hipóteses entramos num acordo. Se já broxamos ou não, isso deixou de ser cavalo de batalha. Se aconteceu, paciência, e virou história pra contar. Se não aconteceu ainda, vai acontecer,e daí?

Alguns mais e outros menos, a verdade é que evoluímos. E aos 30 e muitos, definimos nossa própria conduta, libertos do comportamento primitivo do macho de outra época. Nos permitimos chorar, cozinhar, curtir moda e decoração, participar ativamente da vida dos nossos filhos, cuidar da gente. Os estudiosos de marketing até deram nome à este novo homem: metrosexual. Pura balela, pra segmentar mais um mercado e gastar mais verba dos clientes.

Onde vai dar essa pose toda de que me investi, não tenho idéia. Façamos um esforço, em prol da qualidade da espécie, pra que nossos filhos sejam assim aos 20 e poucos. E que nós aperfeiçoemo-nos cada vez mais até o fim da vida. Acho que as mulheres, penhoradamente, agradecem. E elas agradecem cada vez melhor....


E por último, um texto escrito em 2005, falando sobre a primeira viagem sozinho do João Victor, meu filho mais velho, então com quase 7 anos!

Pensei que fosse fácil, mas não é. Parece título de música da Rosana...mas enfim, é o início do report de hoje. A gente é cheio de teorias na criação dos filhos. Cada um tem a sua, e com amor, todas são válidas. Mas na hora da prática, a emoção bate forte e temos que segurar a onda pra não pôr tudo a perder.

O João fez hoje sua primeira viagem sozinho. Quando a avó ligou no sábado dando essa idéia, confesso que minha primeira reação foi dizer NÃO. É longe. A viagem de ônibus é perigosa. Ele não agüenta a saudade. Quem vai olhar? Quem vai cuidar? E se ele cair? E se ele se perder? Ridículo, né? Medos meus, mas que nem tenho vergonha de assumir. É coisa de pai. Aquela sensação de onipotência e onipresença que nos faz acreditar que, às nossas vistas, os filhos estarão livres de tudo. Aí entra o velho e bom equilíbrio entre os casais. Minha mulher, bem mais sensata, encarou com naturalidade e satisfação. Perguntamos à ele, e obviamente, ele topou na hora. Dei lá meus jeitos pra coisa ficar mais confortável pra mim. Ele foi de avião até o Rio. De lá foi de carro até Bicas, com os tios da Renata. Pela última notícia que tive, deve estar chegando.

A coisa mexeu comigo. É um passo grande rumo à vida independente. Eu, que sempre quis criá-los para o mundo, de repente me assustei com a velocidade que as coisas ocorrem. Mas não dá pra impedir. Férias na casa da avó. Quer coisa melhor? Em cidade do interior? Eu não tive essa oportunidade, mas tive outras. E ontem, me peguei contando essas experiências para eles, sentado no bar de casa, tomando cerveja, quase de igual pra igual. Minhas primeiras viagens, medos, sensações. Eles com o olhar comprido, querendo saber de detalhes esdrúxulos, verdadeiramente interessados e ansiosos pro tempo passar e poderem viver isso também. Não precisa dizer, que a corrida está só no começo. Os outros três, já estão cada à seu modo, contando o tempo para terem a mesma chance. Bem, no dia que os quatro forem juntos, alguém vai ter que acudir esse pai bobo, que vai chorar feito criança.

Pra completar, ele quase não embarcou. O vôo estava atrasado duas horas. A gente não queria empatar os tios que iam ter que esperar até às onze pra seguir pra Bicas. Cogitamos adiar a viagem por 24 horas. Aí, mais uma surpresa. Ao invés do choro incontido, uma cara de tristeza, mas segurando a onda e entendendo o lance. Diante disso, o que fazer? Corri na Varig, tinha um vôo saindo em vinte minutos. Apesar da correria, deu certo. Eu nunca vou esquecer o sorriso dele, correndo com a mala na mão, vibrando de felicidade, porque ia finalmente embarcar.


Hoje o que importa é que me deu uma sensação de tarefa cumprida. Uma das muitas a que nos propomos. O João era pura segurança à caminho do embarque. Não olhou pra trás, certamente com medo de chorar. Natural que chorasse. Mas pelo menos, já sabe como contornar as coisas. Ele vai sentir saudade, e é bom que sinta. Afinal de contas, a gente só sente saudade de coisa boa. Vai aprender um monte de coisas novas, e certamente, voltará dando aulas pros irmãos. Papel que desempenha com maestria.

Quando a Dinda Ana Paula perguntou se ele agüentaria esses dias todos longe do pai e da mãe, ele sem titubear, deu uma resposta típica dele: Se eu agüento tanto tempo longe do meu tio Gabriel e do meu avô Cezar, porque não vou agüentar uma semaninha longe deles????

Quando ele nasceu, eu que tenho trilha sonora particular pra minha vida, escolhi uma música pra ser dele. Do Gil. Há de surgir, uma estrela no céu cada vez que ocê sorrir...As noites de julho serão claras como o dia, com o a quantidade de novas estrelas que surgirão.

Thomas e Mariângela (os tios), a participação de vocês foi super especial. Obrigadão. Ele não vai esquecer nunca...

Filho, a coluna de hoje é só sua. Quando você crescer, e tiver a oportunidade de ler isso, talvez ria ou morra de vergonha. Mas depois de um tempo, vai chegar a sua vez, e você verá que não existe nada na vida que se compare à essa emoção.

Boa viagem, e divirta-se muito!