Lá pelos idos de 2000, a gente costumava fazer uns saraus na casa da Val e do João. Bons tempos de trocar palavras, emoções e cultura. Uma vez, a Val pediu que cada um levasse algo que lembrasse a criança que um dia tínhamos sido. Eu escrevi o texto abaixo, que agora resolvi postar aqui:
Meu menino escrevia poesia.
Meu menino ouvia música.
Mas meu menino bem sabia correr o mundo feito cachorro sem dono.
Meu menino adorava festas. E guaraná Wilson.
Meu menino já tinha ídolos. Eles melhoraram com o tempo....
Ou o tempo melhorou o menino.
Meu menino adorava festas. E pudim de leite.
Meu menino viajava sozinho. Pilotando os próprios aviões e aterrisando em pistas dos muros baixos da vizinhança.
Meu menino cantava em inglês, sem saber o que era forever nem mistake.
Meu menino sonhava muito e amava, já menino, uma Brasília distante.
Meu menino adorava festas. E cachorro quente.
Meu menino caminhava e falava sozinho.
Meu menino trepava em árvores e caía muito delas junto com mangas e cajús.
Caçava calangos e namorava as estrelas. Do cinema e da TV.
Meu menino ia à missa. Lia na missa. Cantava na missa.
Meu menino adorava festas. E feijoada de lata.
Meu menino jogava basquete. Fazia teatro e queria ganhar um oscar.
Meu menino tinha uma irmã.
Meu menino tem 4 filhos e uma mulher.
Meu menino joga baralho. Vai ao teatro e assiste ao Oscar.
Meu menino adora festas. E feijoada de lata.
Meu menino não vai à missa. Mas reza em casa.
Meu menino não caça nada, mas namora uma estrela. Em casa.
Meu menino não trepa em árvores.
Meu menino caminha e fala sozinho.
Meu menino adora festas. E cachorro quente.
Meu menino sonha muito e ama, ainda menino, Brasília. Pra sempre.
Meu menino canta em inglês. Escreve em inglês. Fala inglês.
Meu menino viaja sozinho.
Meu menino adora festas. E pudim de....não....e profiteroles.
Meu menino tem poucos ídolos. Eles mudaram com o tempo.
O tempo não mudou o menino.
Meu menino adora festas. E guaraná Wilson.
Meu menino sabe correr o mundo, mas não é dono de nenhum cachorr.
Meu menino ouve música.
Meu menino ainda escreve poesias. Mas não mostra pra quase ninguém....
3 comentários:
Que graça de menino!
Eu lembro desse sarau. Deve ter sido um dos primeiros que fui. Nossa parece coisa de outra encarnação. Tempus fugit
LINDA POESIA, E ACHO A IDEIA DOS SARAUS FANTASTICAS. PODEMOS APROVEITAR O NOVO ANO E FAZERMOS ALGO ASSIM.
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