Tentar definir amizade e amigos, sem cair no clichê, é impossível. Portanto, pulemos essa parte. Vamos direto ao que interessa. Algumas pessoas colecionam selos. Outras colecionam postais. Deve haver alguma mocinha romântica que ainda coleciona papéis de carta. Eu coleciono amigos. Desde sempre. Sempre prezei. Sempre busquei. Sempre cuidei. Sou capaz de um telefonema no meio do domingo melancólico, lá pelas seis da tarde, para aquele amigo que não vejo há dez anos. Ligo e converso como se tivéssemos encontrado na balada de sexta à noite. A intimidade entre amigos é algo que não se perde com o tempo. Está eternamente inserida na construção de uma relação atemporal e independente de laços sanguíneos que perdura enquanto houver a ternura e a necessidade de amar fraternalmente alguém. Uma frase longa que pode se resumir em "amizade é bom pra caralho"!
Talvez por tudo isso, "Queridos Amigos" seja tão a minha cara. Pra quem não sabe do que se trata é a nova minissérie da Globo, adaptação de um livro da Maria Adelaide Amaral por ela mesma, que estreou semana passsada. Desde que começou o burburinho da produção eu sabia que ia adorar. Esperei ansioso a estréia, como há muito não aguardava nenhuma produção de TV. Foi show de bola. Emoção do começo ao fim.
O argumento está longe de ser inédito. Reunião de amigos afastados pelo tempo, normalmente diante de um acontecimento triste e fatal. Ou morte ou doença muito grave. O tema já foi brilhantemente explorado no cinema em "O Reencontro" e "Invasões Bárbaras". E eu já falei sobre isso aqui no blog, e sobre a minha vontade de fazer igual algum dia. Morrer rodeado de amigos.
O argumento está longe de ser inédito. Reunião de amigos afastados pelo tempo, normalmente diante de um acontecimento triste e fatal. Ou morte ou doença muito grave. O tema já foi brilhantemente explorado no cinema em "O Reencontro" e "Invasões Bárbaras". E eu já falei sobre isso aqui no blog, e sobre a minha vontade de fazer igual algum dia. Morrer rodeado de amigos.
Maturando bem o tema, acho que posso fazer diferente. Mudar o mood dessa história e reuní-los para festejar. O quê? Nada de datas redondas, nem comemorativas. Festejar o fato de termos nos tornado muito amigos um dia. Se o tempo espalhou cada um para um lado, se casamos várias vezes ou nenhuma, se temos filhos, os perdemos, ou temos proles numerosas, se eu bebo prosecco, o outro bebe cerveja e um dia bebemos muito vinho barato, pouco importa. Durante horas, que sejam, somos de novo uma turma. Celebremos as brigas que um dia tivemos. Sempre é tempo de perdoar e tentar entender que porra você apenas queria dizer ao invés do que eu teimei em entender. Coisa de adolescente ou não, o fato é que um dia nos reunimos em torno de assuntos comuns, cuidamos das vidas uns dos outros, choramos romances desfeitos, comemoramos trepadas ansiadas, vibramos com o primeiro emprego ou o notão na prova final. Mais do que isso, vamos celebrar o fato de um dia termos precisado visceralmente de alguém, mesmo que esse alguém, hoje, seja quase um estranho. Não seja o outro que um dia viveu naquele corpo, mas que voltará rapidinho ao primeiro chamado, nem que seja para um abraço forte e demorado. Tirando os filhos e os amores, nada mais do que isso, prova e quantifica o sentido da nossa existência. Posso dizer, sem falsa modéstia, que eu daria um ótimo Léo. Sem a morte eminente, por favor. Adoro reunir. Saber como está. Perguntar pela mãe, pelo pai e pelo irmão. Relembrar namoros passados. Cruzar pares desfeitos. Secar lágrimas sofridas. Chorar junto de alegria. Brindar o reencontro, mesmo sabendo que passaremos novamente anos sem nenhum contato. Mas guardando no coração aquele momento e todos os outros passados. Reconhecendo trejeitos e emoções, mesmo que estejam disfarçados e acobertados pelos anos, agruras e movimentos que a vida fez com os soldadinhos de chumbo que no fundo somos. Apresentar aos nossos filhos, o nosso passado. Nu e cru. Com direito à micos revelados e saias justas. Juntar o amigo do jardim de infância com o amigo de infância que você fez no ano passado. E deixá-los comparar entre si, quem somos, quem fomos e cagar pro que seremos.
Infelizmente, não conto com o orçamento de produção da Globo. E nem todo mundo tem a mesma disposição. Daí, sigo sonhando com isso. Ou reunindo pequenos grupos. Mandando emails. Ligando domingo à noite. Encontrando na academia. Pesquisando no Google. Talvez um dia escreva algo baseado nisso. Não vou me preocupar em ser original. Vários não foram e produziram histórias lindas. Material não falta. Farei uma reunião virtual ou quem sabe não apareçam todos na noite de autógrafos, nem que seja pra me dar porrada por ter revelado os segredos inconfessáveis confiados no tempo e que supunhamos enterrados por este.
P.S. Estou lendo o livro que originou a minissérie. É tão bom quanto....